As bochechas rechonchudas adoradas pelas avós de antigamente deixaram de ser sinônimo de saúde há muito tempo. A idéia de que para ser saudável a criança deve ser “gordinha”, já não pode mais ser sustentada. Crianças obesas além de serem constantemente alvo de brincadeiras de mau gosto, estão desenvolvendo precocemente doenças previamente consideradas como exclusivas do mundo adulto, como altos níveis de colesterol, diabetes, pressão alta, problemas cardíacos, depressão, etc. A situação está tão grave que para a OMS, a obesidade infantil é um dos maiores problemas de saúde atualmente e para o futuro.
A abordagem deste problema tão sério requer um enfoque educativo e que estimule mudanças que envolvam toda a família. A comissão criada para o enfrentamento da obesidade infantil da OMS destaca que “as pessoas têm que entender que crianças não são pequenos adultos. Portanto, a luta contra a obesidade entre esse grupo vai envolver uma estratégia diferente daquela empregada entre os adultos”. Para isso, é necessário que se esclareça quais são os fatores que estão levando ao excesso de peso e de que forma podemos combatê-los. A seguir responderei a esses dois questionamentos, no entanto, é importante que cada caso seja analisado individualmente e que metas sejam estabelecidas considerando os hábitos e a estrutura de cada família.
Quais são as principais causas da obesidade infantil?
– Má alimentação: escolhas alimentares pobres como alimentos tipo fast food, guloseimas, refrigerantes são as grandes vilãs da obesidade infantil, pois possuem alto valor calórico e baixo valor nutritivo.
– Sedentarismo: antigamente as crianças passavam as tardes correndo, jogando bola, brincando de pique, andando de bicicleta… Atualmente, tanto pelo comodismo das novas tecnologias quanto pela violência urbana, elas passam horas dos seus dias em frente às viciantes “telas”: assistindo TV, jogando video game, brincando em celulares/tablets. Estas atividades além de gastarem pouquíssima energia, ainda propiciam o hábito de “beliscar” a tarde toda. Soma-se à isso, o fato de que a maioria dos comerciais dirigidos às crianças incentivam o consumo de fast food, doces e refrigerantes.
– Influência dos pais: quando um dos pais é obeso, já aumenta a chance da criança ser obesa. No entanto, devemos levar em consideração que muitas crianças possuem excesso de peso não por uma influência genética e sim pelo ambiente a que são submetidas. As crianças de forma geral, imitam as atitudes dos pais. Desta forma, se os pais tem hábitos alimentares errados e não praticam atividade física, a criança aprenderá rapidamente este comportamento levando ao ganho excessivo de peso.
Como podemos combater a obesidade nas crianças?
– O primeiro passo é engajar toda a família! Pai, mãe, irmão, avó… todos mesmo, independentemente de serem magrinhos ou gordinhos! Hábitos saudáveis fazem bem a todos e serão um incentivo à criança.
– Compra de mercado: esta etapa é fundamental! Só coloque no carrinho aquilo que você quer que seu filho coma. Se você não quer mais vê-lo destruir o pacote de bolacha recheada, então não compre! Não adianta encher a fruteira enquanto tiver um chocolate no armário!
– Prepare pratos saudáveis ao seu filho.O bom e velho arroz com feijão, bife (cozido, assado ou na chapa) e uma saladinha são ótima opções! Varie a salada, algumas crianças aceitam mais facilmente legumes cozidos a verduras cruas. As frutas são excelentes para os lanchinhos da manhã e da tarde. Lembre-se que o leite e seus derivados são essenciais para o crescimento, mas prefira as opções desnatadas.
– Cuidado no preparo dos alimentos. Não use óleo excessivamente. Uma lata de óleo deve durar pelo menos um mês para uma família de quatro pessoas.
– É importante não pular refeições e mastigar bem os alimentos. Um ambiente calmo, sem televisão ou ipad ligados são essenciais. A criança deve prestar atenção ao que está comendo, para não ingerir os alimentos compulsivamente e não perceber quando já está saciada.
– Guloseimas e fast food: não proíba. Apenas explique que não podem ser consumidos todos os dias. Diminua a ansiedade da criança, garantindo que ela pode comer, mas de vez em quando e em pequenas porções pois não fazem bem, embora sejam saborosos.
– Incentive a realização de atividade física. A melhor opção é aquela que a criança gosta. Leve-a para andar de bicicleta, jogar bola, correr, passear com o cachorro. Crianças maiores podem preferir esportes, incentive-os!
– Limite a no máximo 2 horas por dia o tempo que seu filho gasta em frente à televisão, computador, videogame e celular.
– A criança não deve se sentir pressionada a perder peso e sim a adquirir opções saudáveis. Lembre-se que por estarem crescendo, o não ganho de peso já é na verdade uma perda!
O mais valioso em todo esse contexto é a criança e a sua família compreenderem a importância da aquisição de hábitos saudáveis para que estes não sejam apenas medidas temporárias e sim escolhas para uma vida toda!
Rajia Arantes Falavigna
Endocrinologista Pediátrica da Clínica Qualivita.
Realizou residência médica em endocronopediatria na Universidade de São Paulo (USP RP) e aperfeiçoamento/especialização na Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Hospital de Clínicas (UFPR). Possui título de especialista com área de atuação em endocrinologia pediátrica pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.